Eu, eu mesmo e o pó
O crescimento passa pelo observar. E não me refiro ao
externo somente, mas principalmente ao interno, o nosso interior. Em um mundo
onde ver, tocar e saborear tornou-se tão atrativo, acabamos por desaprender a nos
observarmos verdadeiramente.
Qual foi a última vez em que você pensou: “essa atitude que
estou tendo é por inveja”. Algo simples, pois não conheço quem não inveje. Mas,
também, raras foram as vezes que escutei alguém admitir a inveja. Por quê?
Seria o medo da admissão ou a cegueira de não perceber-se? Talvez um pouco de
cada.
É incrível como nos retraímos ao tocarmos nos pontos falhos.
Somos, inclusive, falsos ao admiti-los. Muitas vezes nos orgulhamos por sermos
reconhecidos como cabeças duras, insensíveis, rebeldes e extremistas. O que não
percebemos é que esse orgulho pode ser uma defesa para nossas falhas.
Algumas vezes no dia todos somos idiotas, seja em atitudes
ou no simples pensar, isso é humano. Agora, quantas vezes no dia você percebe
suas idiotices? E como poderíamos melhorar como seres humanos se nós, que
convivemos com nós mesmos – desculpem a redundância –, não percebemos as nossas
basbaquices do dia a dia? É por esse motivo que tantos condenam uma garota a
chamar outro ser humano de macaco. Temos tanta raiva de nós mesmos, tanto
preconceito, intolerância e insensatez dentro de nós que, quando surge alguém
que exteriorize isso, tornamos essa pessoa um alvo, nós a julgamos e condenamos
a fim de aliviarmos a culpa silenciosa que nos habita.
O mundo, os outros não são os culpados das tolices que mais
tarde se voltam contra o homem. A falha é individualmente brilhante quando
precisa se proteger, nossa natureza estúpida quer sobreviver e a forma como ela
se defende é apontando o outro. Assim, sempre que chegamos perto de percebê-la,
nos voltamos aos erros do próximo, nos comparamos e absorvemos nossos piores
defeitos como se esses fossem naturais. Ora, e se naturais forem, então natural
e inevitável é nossa autodestruição. Seria um sentido existencial simples: nascermos
para nos destruirmos.
Grandes mestres passaram por essa vida, se pararmos para
observar os maiores, perceberemos o quanto eram críticos de si. É notório então
que nossa evolução se concretize pelo observar-se. Parece simples, mas isso
significaria por muitas vezes a imersão direta em nossos piores conflitos. É
assim necessário ser muito forte para suportar-se e suportar a clarividência de
que agimos de forma idêntica a outros que tanto repudiamos.
Percebemos o contexto geral da humanidade e seus rumos
quando somos cientes de não sermos a mudança que gostaríamos no mundo,
consciência essa a se perder rapidamente como pó a se perder no vento.
O crescimento passa pelo observar. E não me refiro ao externo somente, mas principalmente ao interno, o nosso interior. Em um mundo onde ver, tocar e saborear tornou-se tão atrativo, acabamos por desaprender a nos observarmos verdadeiramente.
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