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Perco-me entre textos, poesias e músicas, percebi então que a melhor forma de arquivar era dividir. Nesses anos, muito do que não se perdeu foi graças a quem acompanha meu trabalho. Assim, na imensidão virtual deixo essas pegadas, parecem dois únicos pés, mas acreditem, carrego muito de vocês aqui.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Eu, eu mesmo e o pó

O crescimento passa pelo observar. E não me refiro ao externo somente, mas principalmente ao interno, o nosso interior. Em um mundo onde ver, tocar e saborear tornou-se tão atrativo, acabamos por desaprender a nos observarmos verdadeiramente.

Qual foi a última vez em que você pensou: “essa atitude que estou tendo é por inveja”. Algo simples, pois não conheço quem não inveje. Mas, também, raras foram as vezes que escutei alguém admitir a inveja. Por quê? Seria o medo da admissão ou a cegueira de não perceber-se? Talvez um pouco de cada.

É incrível como nos retraímos ao tocarmos nos pontos falhos. Somos, inclusive, falsos ao admiti-los. Muitas vezes nos orgulhamos por sermos reconhecidos como cabeças duras, insensíveis, rebeldes e extremistas. O que não percebemos é que esse orgulho pode ser uma defesa para nossas falhas.

Algumas vezes no dia todos somos idiotas, seja em atitudes ou no simples pensar, isso é humano. Agora, quantas vezes no dia você percebe suas idiotices? E como poderíamos melhorar como seres humanos se nós, que convivemos com nós mesmos – desculpem a redundância –, não percebemos as nossas basbaquices do dia a dia? É por esse motivo que tantos condenam uma garota a chamar outro ser humano de macaco. Temos tanta raiva de nós mesmos, tanto preconceito, intolerância e insensatez dentro de nós que, quando surge alguém que exteriorize isso, tornamos essa pessoa um alvo, nós a julgamos e condenamos a fim de aliviarmos a culpa silenciosa que nos habita.

O mundo, os outros não são os culpados das tolices que mais tarde se voltam contra o homem. A falha é individualmente brilhante quando precisa se proteger, nossa natureza estúpida quer sobreviver e a forma como ela se defende é apontando o outro. Assim, sempre que chegamos perto de percebê-la, nos voltamos aos erros do próximo, nos comparamos e absorvemos nossos piores defeitos como se esses fossem naturais. Ora, e se naturais forem, então natural e inevitável é nossa autodestruição. Seria um sentido existencial simples: nascermos para nos destruirmos.

Grandes mestres passaram por essa vida, se pararmos para observar os maiores, perceberemos o quanto eram críticos de si. É notório então que nossa evolução se concretize pelo observar-se. Parece simples, mas isso significaria por muitas vezes a imersão direta em nossos piores conflitos. É assim necessário ser muito forte para suportar-se e suportar a clarividência de que agimos de forma idêntica a outros que tanto repudiamos.

Percebemos o contexto geral da humanidade e seus rumos quando somos cientes de não sermos a mudança que gostaríamos no mundo, consciência essa a se perder rapidamente como pó a se perder no vento.

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