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Perco-me entre textos, poesias e músicas, percebi então que a melhor forma de arquivar era dividir. Nesses anos, muito do que não se perdeu foi graças a quem acompanha meu trabalho. Assim, na imensidão virtual deixo essas pegadas, parecem dois únicos pés, mas acreditem, carrego muito de vocês aqui.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Bem-vindo às oito horas mais infelizes de sua vida


Imagine-se sem internet, televisão ou mesmo rádio. Tente pensar em como seria passar uma noite inteira sem eletricidade, agora pense na devida situação durando meses, anos, décadas. Pois bem: automaticamente nos adaptaríamos a acordar com o sol e dormirmos com o cair dele. Resumidamente voltaríamos à época de nossos avós, coisa pouca, três gerações talvez. Mas será que nos distanciamos tanto assim de nossos antepassados?

No geral a maioria de nós ainda acorda com o primeiro sol – claro que não por livre escolha, afinal, se pudéssemos escolher, também não sairíamos do trabalho junto ao sol que se despede no horizonte. Mas então por que ainda fazemos como nossos bisavós? Por que seguimos a usar o melhor horário de nosso dia para o trabalho, trancados dentro de escritórios, correndo de um lado para o outro sem tempo de sequer olharmos pela janela?

Até o final do século 18, as cargas horárias ficavam entre 10 e 16 horas. Henry Ford foi um dos primeiros grandes empresários a avaliar e concordar com a ideia de Robert Owen, o qual defendia uma carga horária não superior a 8 horas por dia. Dizia este: “Oito horas de trabalho, oito horas de lazer, oito horas de descanso”. Não à toa Henry Ford se tornou um dos mais bem-sucedidos homens que o mundo já viu. Seu diagnóstico preciso mostrou aos demais poderosos da época que 8 horas de um funcionário alegre rendiam muito mais de 16 horas de um triste.

Você deve conhecer algum empresário que gere empregos, qual é a maior reclamação dele quanto a seus funcionários? Na maioria das vezes é o desempenho que mais aflige o contratante, isso porque felicidade e produtividade não se disfarçam. Fala-se muito: “esse não gosta de trabalhar”, mas gostava o escravo de ser escravo? Tudo bem, não se pune mais com chicotadas, mas são somente as punições carnais que qualificam o escravismo? Acredito que não. O próprio empresário sabe ao que me refiro, afinal, ele é um escravo do governo que o explora covardemente.

Partindo do princípio das engrenagens, não fica difícil saber sobre os problemas desse defeituoso relógio o qual chamamos sociedade. Trabalhamos como nossos avós, porém, a sobrevivência foi transformada em consumo exacerbado.  Se antigamente mãos calejadas traziam o pão para a mesa, hoje, nossas metas se tornaram inalcançáveis, pois nem nós mesmos sabemos nossos reais desejos de consumo.

Países mais avançados culturalmente já notaram que a infelicidade não gera lucros a longo prazo. Em muitos lugares da Europa e no próprio Oriente grandes empresas abordam seus colaboradores de forma a mantê-los felizes. Não é por acaso que o próprio Google seja uma das empresas de maior faturamento do planeta: mais de 10% do que arrecada é destinada ao lazer de seus funcionários, que dispõem, por exemplo, de banheiras de hidromassagem para serem usadas a qualquer momento.

Em 2013, nosso país quebrou seus recordes de processos trabalhistas. Nunca patrões e funcionários estiveram tão infelizes. E ao que tudo indica, 2014 será ainda pior. A pouca confiança que existia se quebrou. As engrenagens se soltaram, empregados odeiam seus empregadores, os empresários, por sua vez, não suportam mais serem explorados e muitas vezes vistos como bandidos a cada novo processo.

A forma como vivemos hoje é muito diferente daquela de dez anos atrás: dormimos mais tarde, mudaram as prioridades, a modernidade expandiu e confundiu ainda mais as mentes. Ainda assim, apesar desse mundo tão diferente, quase não observamos mudanças na forma como as empresas lidam com os trabalhadores.


A forma como passamos a interpretar o trabalho não é um dos reflexos da sociedade atual, mas sim uma das causas por sorrirmos cada vez menos e acordarmos cada vez menos dispostos a levantar.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Somos Marshall


"Somos Marshall". Um dos primeiros filmes referente a futebol americano que vi, na época nem fazia ideia das regras do esporte, mas não importava, pois no fundo esse não é um filme sobre o esporte, mas sim sobre a vida. Uma história real, a história de todos nós, um dia jovens promissores, no outro homens cuidando de suas famílias. Mas ao mesmo tempo, dentro de tudo isso, pessoas em aviões que um dia caem.
 
Nossa vida é esse constante voo onde o sucesso é só mais uma entre tantas buscas, onde o anonimato é preenchido pelo amor de poucos que nos cercam durante nossa breve existência.

Voamos às cegas entre as nuvens silenciosas, entre os sorrisos de amigos e o observar de nossos professores. Esquecemo-nos de estarmos caindo, pois lá em cima é o voar que realmente importa.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Quem muito anda não anda só

Deito a cabeça no travesseiro, mas não durmo, não consigo. Minhas lembranças giram e se colidem. De tanto o fazerem, por vezes se encaixam: ou será que se encaixam por já nascerem peças?

A filosofia greco-romana chama isso de fatalismo, a ordem cósmica e seus acontecimentos inexoráveis. Nós geralmente chamamos de destino. E quem nunca se indagou ou foi indagado: “você acredita em destino?”. Geralmente essa pergunta surge nos primeiros encontros com uma paquera, mas diante de tantos estímulos, a profundidade desse questionar se perde. Acontece que uma certa noite você deita para dormir e simplesmente não consegue. Fica então a pensar nesta sensação de “tinha que ser”.

Era uma tarde quente de domingo, fui até um quiosque comprar uma água. Um senhor se aproximou pedindo um refrigerante, ele vestia uma camisa do Grêmio. Geralmente não faço comentários para algo tão normal, mas naquela tarde eu fiz: disse-lhe algo simples, um rápido elogio pela camisa. O fato era que aquele senhorzinho era um escritor o qual recém havia lançado um livro pelo próprio Grêmio. O resultado dessa conversa foi que a editora dele alguns meses depois viria a publicar o meu livro.

Mais recentemente meu amigo Bruno Teles me enviou uma mensagem da Rússia. Bruno joga futebol profissionalmente. Alguns anos atrás o visitei em Recife, convivemos por quase um mês. Lembro-me dele questionar sobre onde estaria quando tivesse seu primeiro filho e aposto que se eu tivesse dito que seria na Rússia, ele no mínimo acharia engraçado.

Matheus é outro grande amigo que o futebol me trouxe. Goleirão, tinha tudo para ser o titular na época em que Victor – hoje goleiro da seleção brasileira – havia sido recém-contratado pelo Grêmio. Lembro-me de um treinamento que o Matheus pegou tudo, até que em uma brincadeira pós-treino ele machucou o ombro e ficou meses sem poder jogar.

É nesse girar de peças que junto todas. Pois naquele domingo quente, naquele exato minuto em que eu decidi comprar uma água, Natal Augusto Dornelles – o escritor – também decidiu. Sabe-se lá o motivo que o fez vestir a camisa do Grêmio e sei lá eu o motivo de ter feito um comentário sobre isso. Não sei sobre motivos, mas vejo as consequências. Meu livro publicado, através do qual conheci o Bruno que certa noite me convidou para uma festa do time onde conheci o Matheus.

Este emaranhado de acontecimentos tira o sono dos que não gostam da ideia de não poderem controlar suas vidas. Eu sou um desses a pensar que o destino a gente faz, porém, quando paro para pensar na precisa matemática que me cerca, percebo não estar sozinho. Por vezes finjo trilhar meu caminho, faço de conta estar só, mas sinto que não estou.

O poeta foi questionado: “o que jamais há de se encontrar no bolso de um suicida?” – Um bilhete de loteria por correr – respondeu. Se há esperança, há vida. Basta, então, termos olhos abertos e nos atentarmos às esquinas: elas demonstram que desistir não é uma opção quando nos percebemos uma engrenagem movida por outras.

O acontecimento é, então, irrevogável? Não sei, se soubesse não precisaria escrever, passaria apenas a vida observando e rindo de tudo e todos. Mas acredito, sim, que há fatos preestabelecidos. Por quem? Por nós mesmos. Sim, alguns chamam de lei da atração, eu prefiro chamar de “a preparação encontrando oportunidade”.

Talvez o universo goste dos chatos, talvez ele até priorize a chatice na escala dos talentos. Isso explicaria por que há tanto tempo escrevo em jornais tendo por aí tantos melhores do que eu. Bah, só de comentar isso lembrei de como comecei a escrever para o SERRANOSSA, mas essa história fica para próxima.


terça-feira, 4 de novembro de 2014

Aprende a dividir quem um dia também recebeu



Não lembro o ano, apenas a cidade, Santa Maria/RS, alguma festa popular rolava por lá. Estávamos eu e um amigo em uma das principais avenidas da cidade, bebíamos e conversávamos até que um morador de rua - mendigo na linguagem popular, parou diante nós puxando assunto, demos a famosa 'trela' e claro ele ficou por aí, como o cão que recebe ossos e já vê aquelas mãos como a de um herói. Lembro que o cara tinha 1 litro da cachaça Velho Barreiro. A garrafa ainda estava lacrada, mas isso não impediu aquele senhor maltrapilho de nos oferecer o liquido precioso. Sim, precioso, mais do que comida, mais até mesmo que dinheiro - pelo menos para a maioria dos moradores de rua que conheço. O fato é que aquele barbudo invisível para a maioria não exitaria em dividir toda sua bebida, seu único bem conosco.


O egoísmo é aprendido, falsamente interpretado como necessidade. Mais é melhor, logo, dividir é menos. Só quem já recebeu pão de outras mãos entende que dividir não é menos, mas sim mais. Você deixa de por um pouco de comida pra dentro, mas põe pra fora a ação de gerar consequências positivas. Quem divide não se divide, ao contrário, se soma, junta fragmentos a esse tão desconexo quebra-cabeça da existência.

Por isso o vídeo não me surpreendeu. Aquele a negar a divisão no início não conhece os fins, ele nunca passou dos meios para entender que o simples de dar é um ato de receber. Já o mendigo de cabeça baixa e pés descalços, este sabe o significado da mão que se estende, ele entende que a que dá é a mesma que recebe. Por isso ele também não pede nada em troca, pois há um lado sábio nesses andarilhos, ele e outros sabem sobre a bondade e no silêncio que esta cabe.


domingo, 2 de novembro de 2014

E se não soubéssemos ser impossível?


Nossos olhos nos traem. Nessa necessidade por ver nos esquecemos as coisas incríveis que ocorrem dentro de nossa inocência. Quando iniciei meu primeiro livro não imaginava o quanto era difícil encontrar alguém que acreditasse no mesmo, talvez isso tivesse me desencorajado, mas quando me dei por conta já estava com ele pronto e sendo adotado por uma ótima editora em Porto Alegre.

Talvez se o garotinho deste vídeo pudesse ver por um mísero segundo um desses super astros tocando ele jamais teria tentado fazer o mesmo, porém, "por amor as causas perdidas" (obrigado HS) ele o fez, tentou do seu jeito, sem saber que era impossível, apenas deixando o sentimento mágico crescer.

Quando nos dizem ou mesmo repetimos a nós não nos importarmos com a opinião dos outros, vejo um falso sentido. A opinião alheia importa e machuca sim, o não importar-se então deve se referir aos sonhos, afinal como podemos deixar de crer em um sonho que é só nosso? Sim, sonhos podem ter o mesmo nome, assim como há outros Felipe's por aí, mas se ninguém é igual a ninguém sonhos são tão únicos quanto os seus sonhadores.

Por vezes a cegueira abre as portas da percepção, assim nascem os gênios que carregam um recado filosófico com mais de 5 mil anos: "Sem saber que era impossível ele foi lá em fez".

Esqueça tanto saber e resgate o sentir. Afinal, todos nós somos cegos diversos aspectos. E quantas coisas incríveis faríamos se antes de nos questionarmos simplesmente sentíssemos.

Boa noite e bons sonhos.







sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Como está seu 'timing'?


O vídeo é de humor, mas o papo é sério, afinal todos conhecem alguém sem o 'feeling' para decisões. Aliás, por muitas vezes nós mesmos nos perdemos em meio as perturbações de uma vida cheia de cobranças. Não é de hoje que, por exemplo, vejo pessoas apaixonadas sofrendo, seja pela relação ter se tornado um peso ou presos ao sofrimento do que  insistimos em tentar resgatar.

Vaso quebrado não se conserta e se fingimos fazê-lo ainda assim sabemos que já não é o mesmo vaso. O timing para as relações é o limitar dos pesadelos, uma forma de vivenciar as dores, mas ao mesmo tempo saber que as tormentas passam. Aceitar a vida em ciclos é abrir as portas para o Ouroboros da existência: - Sabem aquele 8 invertido que tantas pessoas usam e tatuam? Pois é, ele surge do Ouroboros, a serpente que engole o próprio rabo, o eterno retorno. Tudo se finda para o tudo recomeçar

Temos essa mania de demonizar uma pessoa quando saímos da relação, mas se ela é assim tão ruim como passamos tantos bons momentos com ela? Ora, eis nossa mais lamentável defesa, precisar matar alguém dentro de nós a fim de suportarmos qualquer falta que essa nos cause. Lamentável, pois esse ato é quase um suicídio emocional, é esse tipo de atitude que constrói as paredes e condena uma próxima relação que poderia nos agregar tanto.

O passado é lembrança, lembranças são a base de nossas escolhas. Quando tentamos matar alguém que fez parte de nossas vidas matamos uma parte nossa, e esse ataque começa justamente quando perdemos o timing do fim. Lá no fundo sabemos se o momento é de seguir em frente, não o fazemos justamente por essa ilusão da eternidade, de que tudo deve durar para sempre e assim nós também duraremos.

A eternidade cabe sim em todos nós, mas ela está em momentos. O sofrimento repousa nessa necessidade de nadarmos contra o rio achando que o impediremos de correr. Insistir no que ao fundo sabemos ser hora de deixar partir é ferir-se cegamente. Pois se na existência flutuamos nos cercamos de possibilidades, olhos se tornam o coração, logo, se o preenchermos de mágoas por onde as coisas boas entrarão?

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Eu, eu mesmo e o pó

O crescimento passa pelo observar. E não me refiro ao externo somente, mas principalmente ao interno, o nosso interior. Em um mundo onde ver, tocar e saborear tornou-se tão atrativo, acabamos por desaprender a nos observarmos verdadeiramente.

Qual foi a última vez em que você pensou: “essa atitude que estou tendo é por inveja”. Algo simples, pois não conheço quem não inveje. Mas, também, raras foram as vezes que escutei alguém admitir a inveja. Por quê? Seria o medo da admissão ou a cegueira de não perceber-se? Talvez um pouco de cada.

É incrível como nos retraímos ao tocarmos nos pontos falhos. Somos, inclusive, falsos ao admiti-los. Muitas vezes nos orgulhamos por sermos reconhecidos como cabeças duras, insensíveis, rebeldes e extremistas. O que não percebemos é que esse orgulho pode ser uma defesa para nossas falhas.

Algumas vezes no dia todos somos idiotas, seja em atitudes ou no simples pensar, isso é humano. Agora, quantas vezes no dia você percebe suas idiotices? E como poderíamos melhorar como seres humanos se nós, que convivemos com nós mesmos – desculpem a redundância –, não percebemos as nossas basbaquices do dia a dia? É por esse motivo que tantos condenam uma garota a chamar outro ser humano de macaco. Temos tanta raiva de nós mesmos, tanto preconceito, intolerância e insensatez dentro de nós que, quando surge alguém que exteriorize isso, tornamos essa pessoa um alvo, nós a julgamos e condenamos a fim de aliviarmos a culpa silenciosa que nos habita.

O mundo, os outros não são os culpados das tolices que mais tarde se voltam contra o homem. A falha é individualmente brilhante quando precisa se proteger, nossa natureza estúpida quer sobreviver e a forma como ela se defende é apontando o outro. Assim, sempre que chegamos perto de percebê-la, nos voltamos aos erros do próximo, nos comparamos e absorvemos nossos piores defeitos como se esses fossem naturais. Ora, e se naturais forem, então natural e inevitável é nossa autodestruição. Seria um sentido existencial simples: nascermos para nos destruirmos.

Grandes mestres passaram por essa vida, se pararmos para observar os maiores, perceberemos o quanto eram críticos de si. É notório então que nossa evolução se concretize pelo observar-se. Parece simples, mas isso significaria por muitas vezes a imersão direta em nossos piores conflitos. É assim necessário ser muito forte para suportar-se e suportar a clarividência de que agimos de forma idêntica a outros que tanto repudiamos.

Percebemos o contexto geral da humanidade e seus rumos quando somos cientes de não sermos a mudança que gostaríamos no mundo, consciência essa a se perder rapidamente como pó a se perder no vento.