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Perco-me entre textos, poesias e músicas, percebi então que a melhor forma de arquivar era dividir. Nesses anos, muito do que não se perdeu foi graças a quem acompanha meu trabalho. Assim, na imensidão virtual deixo essas pegadas, parecem dois únicos pés, mas acreditem, carrego muito de vocês aqui.

sábado, 30 de julho de 2016

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segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Sobre gente que já nasce velha

Nesta semana, assistia a um monólogo do brilhante historiador gaúcho Leandro Karnal e, entre tudo de interessante que ele sempre tem a dizer, uma parte em específico chamou a minha atenção: 
“Quanto mais eu envelheço, mais eu tenho medo; quanto mais eu tenho medo, mais eu tenho consciência do mundo. Enquanto eu, velho, demorava a entrar numa piscina de profundidade desconhecida, meu sobrinho, de dezoito anos, se atirou sem pensar duas vezes. A consciência nos torna covardes. Hoje, eu jamais  viajo sem um hotel reservado. Um jovem nunca sai com um guarda-chuva. Já eu, levo óculos extra, casacos, remédios e, quanto mais eu envelheço, mais coisas carrego ao sair de casa. O que significa isso? Eu percebo que a vida tem riscos. Ou seja: quanto menos eu soubesse dos riscos do mundo, melhor eu viveria”.
E agora, o principal: “O que fazer com o fato de que eu sei que, enquanto os outros gritam, no dia 31 de dezembro: ‘Feliz ano novo’, eu digo: ‘Vai ser um ano igual a todos, só que ficarei mais velho e um ano mais próximo da morte’. Como dizer isso sem estragar a festa dos outros? Enquanto eles cantam ‘este ano, quero paz no meu coração, quem quiser ser um amigo, que me dê a mão’, eu penso que cada vez terei menos amigos, porque eles estão morrendo ou se afastando. A ignorância é uma benção”.
Tenho um amigo que sempre diz que sou uma alma velha, pois somente uma alma velha poderia escrever do jeito que escrevo. Detalhe: esse amigo já passou dos 70 anos.
Talvez eu esteja finalmente começando a compreender por que detesto aniversários a ponto de esconder o meu e me sentir realmente estranho diante de qualquer um que me parabenize. Natal? Ano-novo? Queria poder fingir que sinto algo. Até já tentei buscar isso, mas a verdade é que não sinto absolutamente nada de diferente. Isso me gerava inquietação e certo constrangimento, mas, diante de textos de Skakespeare e de outros tantos gênios, encontro uma zona de conforto para o que até então era desconforto. Hoje, estou percebendo que não se trata de tristeza. Eu apenas acordei antes, nasci velho e perceptivo – não ao nível magnífico do personagem Hamlet, mas ao nível do Felipe Sandrin, velho.
Ninguém quer olhar-se no verdadeiro espelho, pois lá habita o rosto da Medusa. Quando encaramos a verdade do que somos, petrificamos, ficamos para sempre de frente para aquele espelho, acontece o despertar maldito. Porém, vivos, ano após ano, a imagem embaçada começa a recuperar os movimentos, até que um dia percebemos que já não tememos como ontem e amanhã, temeremos menos. O que ocorre dali por diante é incrível e revigorante, fazendo-nos sentir vivos todos os dias. Só por isso já vale o desprezo às datas comemorativas, pois sinto viver todos os dias, logo, eu não preciso dos específicos.
Melancólico? Sim. Aparentemente triste? Para outros, talvez. Porém, não se pode fugir da verdade indubitável que é viver. Eu não mais temo a solidão, aliás, eu me completo nela e, por precisar cada vez menos de outros, mais me sinto bem na presença daqueles dos quais tenho certeza de que quero estar perto. Não desprezo mais companhias, pois eu não aceito mais qualquer pessoa próxima a mim. Não preciso agradar ninguém que eu não queira e, a cada ano, melhoro meu sono e meu humor irônico. 
Sinto tornar-me senhor do meu tempo, eu não cultivo a frase: “um dia, você pode precisar daquela pessoa”, pois não venderei sorrisos por interesse futuro. Enquanto qualquer um ao longe reflete se eu sou triste, dentro de mim, reverberam risos, pois vejo a vida como comédia e, no meu palco, o espetáculo ocorre todos os dias.
Sim, eu já me sinto velho aos 29 anos, mas, parafraseando o bobo da corte, eu digo: melhor ficar sábio antes de ser velho, do que velho sem ser sábio.
Texto escrito originalmente para Jornal SerraNossa

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

E se fosse o dilúvio, valeria a pena se salvar?

Pela janela do ônibus, vejo um grande muro, imponente, mas sem grande beleza. Suas pichações e tinta com aspecto envelhecido contrastam com o resto da cidade. Era uma das minhas primeiras vezes em Porto Alegre. Questionei o senhor que sentava ao meu lado sobre a serventia daquela atípica obra: “É o Muro da Mauá. Hoje, não serve para nada”, respondeu.
Saciado parcialmente da curiosidade, me vali daquela afirmação como criança que confia demasiadamente em adultos que, no fundo, sustentam argumentos também infantis. Aquele muro, afinal, separava o Lago Guaíba (ou, chamem de rio) do centro de Porto Alegre. Com o assunto das chuvas e cheias nas principais pautas, me questiono sobre aquele senhor e sua destruidora ignorância. Certamente, ele não sabia que, em 1941, a grande enchente deixou um quarto da população da capital desabrigada.
Assim surgiu o Muro da Mauá, após um dos capítulos mais trágicos do Rio Grande do Sul. Ao longo de 30 anos, o imponente muro de três metros de altura e 2,6 mil metros de extensão ergueu-se de forma silenciosa e esquecida. Hoje, 38 anos após a última grande cheia, o “inútil” muro presta seu serviço à população. Mais do que separar Porto Alegre das águas, essa obra nos lembra que quem não conhece a história está fadado ao lento definhamento.
A natureza é silenciosa, mas se repete. Independente de nós, ela tem sua vida própria, acontece. Para nós, cinquenta, cem anos parecem tanto. Porém, para ela, o tempo nada significa.
O homem garantiu sua sobrevivência no momento em que entendeu a importância de retransmitir o que aprendeu. Afinal, como poderíamos não precisar reiniciar tudo a cada nova geração? Os desenhos, a fala e as escrituras. O ser humano repassando tudo o que aprendeu. Mas, neste mundo prático, retransmitir parece algo a se tornar banal: não é!
Essa memória contraproducente que o brasileiro alimenta é o que tem nos fadado a escolhermos líderes cada vez piores, a seguirmos ideias cada vez mais medíocres e nos apoiarmos sobre mentalidades infantis. Imaginemos que, naquele dia, no meu lugar, estivesse outra criança, um futuro empreendedor, alguém do ramo de construção, talvez. Imaginemos aquela criança a ouvir o senhor dizer que o tal muro era inútil. Imaginem essa mesma criança 30 anos depois, arquitetando um projeto que destruísse o mesmo Muro da Mauá.
História é desinteressante, filosofia não serve para nada. Skakespeare, Kant, Nelson Rodrigues, o muro pichado pelo qual eu passo todos os dias. Por que eu deveria estudar qualquer dessas coisas que aparentemente não me trazem nada?
Este sacrilégio do não pensamento sempre me leva a uma questão: se aos seres humanos cabe o diferencial do raciocínio, em comparação a outras espécies, cabe chamarmos alguém que não pensa de humano?
Por fim, aquele senhor acabou me ensinando algo através de sua ignorância. Eu aprendi com ele que, em nossas mentes, existem mais muros inúteis a nos cercar do que na cidade.
Use sabiamente seu poder de pensar ou, alguém, através das palavras, erguerá em ti barreiras intransponíveis.

domingo, 11 de outubro de 2015

Onde morre a criança e nasce o adulto frustrado



Buscava algo especial para esse Dia das Crianças, mas sei que essa é uma das datas mais difíceis de entender, afinal, surge em nós uma confusão de reais motivos sobre por que deveríamos festejá-la. Para que tem filhos, fica mais fácil: basta voltar a energia a eles para fazê-los notar a importância dessa fase. Mas, ainda assim, quanto desta comemoração não é simplesmente nossa e apenas mais um relembrar nostálgico? Não que seja ruim, mas o que, de fato, devemos passar adiante nesse dia? E, mais do que isso, o que podemos fazer pelas crianças?


Nessa busca por um texto que acrescentasse algo a vocês, revisitei minha infância – e não me refiro às lembranças. O fato é que o texto que quero passar a vocês não está na internet, ou seja, precisarei transcrevê-lo letra por letra aqui, assim como na minha infância. O que não era encontrado na biblioteca pública deveria ser inventado com muita perícia para que passasse pelo crivo dos professores. Bom, mas o que aqui retransmitirei não é inventado, está em um grande livro de Osho e, para mim, representa a grande sintonia sobre nossas funções para com as crianças.

“As crianças não estão perdidas, e nós insistimos em ensiná-las. E todo o nosso ensinamento vai se tornar uma barreira para a vida, por que a vida precisa de uma mente ampla, aberta de todos os lados. E, para ensinar, você precisa de uma mente estreita – concentração, atenção, não percepção. Pois a percepção é uma mente fluindo simultaneamente em todas as direções. Você ouve o caminhão passar na rua. Você ouve os pássaros. Nada fica excluído e nada é desvio de atenção. Todas as coisas existem ao mesmo tempo. Eu vou falando; os pássaros não são perturbados. Os pássaros continuam cantando; porque eu deveria ser perturbado?... Mas o ensinamento depende de concentração. A concentração significa envenenar a criança. A concentração significa estreitar o ser da criança. Apenas uma pequena passagem ficará aberta e todo o resto será fechado. Só um buraquinho, ao qual você chama de concentração, permanecerá aberto, e esse vasto céu estará fechado... todas as portas e janelas. Sente-se perto da fechadura e fique olhando por ela – isso é concentração. Pense nisso: uma criança pequena sentada por seis horas, forçada a se sentar num banco duro, sem permissão de se mexer. Mas a energia se mexe, a energia é viva. Uma criança viva não pode se sentar em silêncio por muito tempo. Ela quer pular, correr e fazer milhões de coisas. Ela transborda de energia. E nós a obrigamos a sentar”.

Então, chegamos ao ponto chave do texto: ‘Se você quer ser mais eficiente, menos percepção é uma coisa boa, pois um mecanismo é mais eficiente que um homem. Um mecanismo simplesmente repete. Logo, todo esforço dispendido pela sociedade é para reduzir a criança a um mecanismo eficiente. E de repente, um dia, você percebe estar sentindo falta de tudo. Você viveu, no entanto, não pode dizer que viveu. Você amou, mas não consegue sentir que o amor aconteceu com você. Você não sentiu a fragrância de estar vivo”.

Sei que quando lemos uma fala tão profunda, ela nos parece utópica: “se criarmos nossos filhos assim, como eles vão sobreviver neste mundo?”, pensamos. Só por nos questionarmos desta forma, notamos o quanto o texto de Osho é preciso em suas colocações. Nós estamos criando as crianças para sobreviverem na guerra que irá colocar umas contra as outras.

Caminhar para a eficiência é tornar-se máquina e, claro, quanto mais máquinas somos, menos questionamos, menos hesitamos na hora de passar por cima de outras pessoas.


Neste Dia das Crianças, compre um presente para você mesmo. Dê-se algumas horas pensando sobre onde morre a criança e nasce o adulto frustrado. É um ótimo presente... para o mundo.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Certo ou errado?

Muitos pensadores convergiam para o equilíbrio como sendo o grande norteador da vida humana. A noção de equilíbrio passou, então, a ser precedida pelo autocontrole, um inibidor consciente para vontades teoricamente inconscientes. Tais equivalências podem ser percebidas de forma mais concreta em questões simples: como ou não como? Posso ou não dar aquela “engordadinha” básica? Porém, as grandes questões, aquelas que realmente fazem diferença, são vistas apenas pelos mais auspiciosos, os aprimorados.
Se esse primeiro parágrafo pareceu complicado, não se preocupe: era para ser mesmo. O fato é que a gangorra de viver está sempre presente – perder de um lado e ganhar de outro. Mas como determinar o ganhar e perder quando o meio soa mais saudável?
Em 2011, iniciei uma série de palestras em escolas: diversas cidades, alunos de várias idades, escolas públicas e particulares. Foi ótimo, aprendi muito. Mas, diante das palestras que ministrei neste ano, já percebo a diferença de percepção que desenvolvi nesses quatro anos, diferenças essas que remetem justamente ao fato de que ganhar é perder e perder é ganhar. Tudo é equivalente.
Vou citar um exemplo recente. Dois dias na estrada, quatro palestras, duas escolas particulares e outras duas públicas. No primeiro dia, as particulares. Chego meia hora antes, as crianças já estão prontas, padronizadas em roupas e no silêncio que a disciplina apresenta. Começo a palestra, todos atentos, os professores sentam tranquilos entre seus alunos. Percebo que eles absorvem o que digo e sinto-me dignificado. Aplausos, agradecimentos e em fila e todos voltam às suas respectivas atividades.
Chega a vez das escolas públicas. Chego uma hora antes, pois tudo que tem “pública” no nome requer mais planejamento. As crianças começam a chegar, algumas suadas, a maioria delas gritando. Brigam pelo lugar, a professora aparta e faz o sinal da cruz. As meninas sentam na frente, os bagunceiros lá atrás – e atrás deles somente os professores, prontos a chamarem a atenção com a naturalidade de quem faz isso o dia todo. Eu falo, alguns escutam, outros não estão entendendo nada, alguns tentam bagunçar: mas eu gosto de bagunça – se deixar eu faço também e que se dane a palestra. Eles aproveitam e eu também. O plano muda, mas ninguém sai entediado. Bem-vindo à escola pública.
Agora, a grande questão. O que é melhor e pior? A disciplina é ótima, eu gosto de ser escutado, sequestrar as atenções. Na escola particular é o que ocorre, o padrão vence, a didática disciplinar cumpre seu papel e não há imprevistos. Já na escola pública, aquela bagunça não me deixa extrair o meu melhor para eles, acabo pulando conteúdos e percebo que o entendimento é bem mais complicado. Porém, há um fato nítido sempre presente nesses casos: quanto mais disciplina, menos criatividade.
Doutrinamos as crianças dizendo prepará-las para a vida, mas a história mostra que essa disciplina é apenas apoiada no princípio da aristocracia, ou seja, em algum momento lá na Grécia antiga, os pensadores mais influentes concluíram que o mundo era formado por raros capacitados intelectualmente e por outra grande maioria de medíocres. As escolas, então, tinham essa definição: separar os bons dos ruins, para que os bons governassem com uma ideia mais clara de justiça a qual beneficiaria ambos.
Esse é o ambiente em que crescemos. O primeiro grande contato com o mundo é através da escola. Mas essa matemática das equivalências não pode ser ensinada: ela precisa ser percebida de uma maneira muito individual. Pois, assim como a disciplina destrói a criatividade, o não disciplinar corrompe a liberdade futura de toda uma sociedade. É um jogo difícil para o qual em dois mil anos ninguém encontrou a resposta.
Por isso sempre aconselho: não acredite cegamente no que você acredita, pois a chance de estar errado é infinitamente maior do que a de estar certo. Esse é o primeiro papel que a escola exerce em nossas vidas: influenciar para que nos enganemos não influenciáveis.

Minha opinião sobre tua opinião

“E aí, Felipe, qual a sua opinião sobre a redução da maioridade penal?” Sinceramente? Não sei. Em tempos em que todos precisam opinar sobre tudo, soa quase que imoral admitir não saber. Mas veja bem, meu “não sei” não é infundado. Eu busquei, juro que me esforcei para fixar uma opinião, mas a verdade é que, quanto mais me abasteço de dados a respeito desse tema, mais me distancio de uma conclusão sobre o “menos pior”. Talvez seja o “não acredito que chegamos a esse ponto” que barre uma conclusão final... 
Temos que ter opinião sobre tudo? Não posso me conformar em opinar sobre amor, morte e madeiras que compõem violões? Aliás, todos precisam fingir saber sobre tudo? Isso não parece meio como “cuspir para cima”? Se todos podem e devem opinar sobre tudo, e se no geral a grande maioria é medíocre em pensamento, então não estaríamos fomentando a opinião pública estúpida? 
Quer me ver buscando saída de uma opinião minha? Basta um “banana” concordar comigo. Você não estranha isso? Quando pessoas que você acha “bananas” concordam contigo? Se não acha, talvez sua opinião seja somente a busca por qualquer aprovação. Ao mesmo tempo, quantas pessoas mais inteligentes, instruídas e até geniais discordam de você? Isso não seria o suficiente para ao menos você restaurar conceitos que, por algum motivo, em algum tempo você rompeu?
Eu não acredito em Deus, aliás, eu também não acredito que alguém possa me provar que ele não exista. Sou assim: mais agnóstico que ateu; mas todos são ateus com os deuses dos outros, ou você acredita em um deus com cabeça de elefante, um com braços de serpente e também naquele que fuma um cachimbo? Reafirmo: todos são ateus para com algum Deus que não o seu. Mas enfim, eu me declarei não crente em Deus para enfatizar que sou apaixonado pelas obras de Santo Agostinho. Agora pergunto ao cristão mais fervoroso: quais obras de Santo Agostinho você já leu? É possível que eu, um agnóstico, conheça e admire um bispo mais do que você, um aficionado cristão? É possível também que eu simplesmente passe por cima da opinião de um gênio como Santo Agostinho acreditando que sou mais sábio que ele?
Percebe a presunção quem percebe a genialidade, e acredite, há muitos gênios que já passaram por aqui. Muitos mesmo. Sabe essas coisas que frustram você? Elas são discutidas, pensadas e teorizadas há mais de quatro mil anos. Sabem aquelas feministas fervorosas que pensam ser essa a hora de mudar o mundo? Peça a elas sobre Aristófanes. Se a resposta for algo tipo: “quem?”, já recomendo que não perca seu tempo discutindo sobre a cobra que engole o próprio rabo. A não ser que seja um daqueles dias bons para se queimar o tempo falando sobre coisa alguma. 
Essa coluna ficou um tanto filosófica, não é? Sei que tem quem gosta. Aos que não entenderam muito o objetivo, por favor, não se culpem, nem me culpem: esse espaço bate nas teclas da vida, mas o que sabemos da vida?
Então, da próxima vez que alguém lhe pedir uma opinião sobre a matança de joaninhas em Trinidad e Tobago que tal dizer apenas um “não sei”?
A propósito: Aristófanes foi um filósofo que, em 392 a.C, escreveu uma peça teatral chamada “As Mulheres na Assembleia”. Sim, há quase 2.500 anos, um homem já protestava pelo que algumas mulheres chamam hoje de “o direito da nova mulher”.
Tá, mas reconsiderando o que escrevi agora há pouco: contra a matança de joaninhas eu sou contra.

O crime compensa

Quanto vale uma vida? Para a maioria dos que governam nosso país, não deve valer nada. É fácil se esconder atrás da palavra burocracia quando o assunto diz respeito aos descasos para com cidadãos de bem que pagam seus impostos, educam seus filhos, respeitam e se sacrificam para cumprir as leis – mesmo as mais absurdas. “Não depende só de nós” dizem aqueles que se elegeram prometendo soluções.
Sempre que estou na estrada, lembro-me de amigos e conhecidos que morreram por culpa desses que governam. Bastaria uma lombada, uma faixa de segurança, a sinalização bem feita e lá uma vida teria sido preservada. Sim, que fosse uma única vida, ainda assim não teria valido a pena?
Os bons estão sendo punidos neste país. Vemos esses malditos proporem leis que isentam criminosos de pagarem transporte público, vemos dinheiro sendo dado a pessoas que roubaram e mataram. Detentos não podem trabalhar, pois são protegidos pelo sistema. Nesta semana mesmo tentei apurar o número de foragidos em Bento Gonçalves e a resposta me foi negada. Suspeito que sejam mais de mil criminosos com mandados de prisão abertos e que estão livres entre nós.
Há empresas fechando por conta de dívidas mínimas para com o Estado, famílias perdendo o sustento por conta da mão de ferro com que o governo trata os empresários de bem que lutam para manterem funcionando o legado de suas famílias. Já deixou de ser somente revoltante para se tornar uma bomba-relógio.
Ninguém que tenha uma mínima instrução ainda acredita neste país. Todo investimento que deveria ter sido feito duas décadas atrás não aconteceu. Ao olharmos para o presente, vemos uma situação não somente caótica, mas também imutável. A cada geração vemos menos pessoas capazes de fazer alguma real diferença.
É indescritível a sensação de abandono pela qual o povo passa. As ditas cidades ricas e bem desenvolvidas da Serra veem ano após ano o afundar de qualquer espírito de comunidade que um dia existiu por aqui. Cercas cada vez mais altas, buracos cada vez mais profundos, onde deveria existir a segurança pública abriram malocas e pontos para venda de droga. A qualidade de vida está horrível, ninguém mais se arrisca a ir a praças, estabelecimentos operam apenas com seguranças armados.
Fragilizaram a população e soltaram os bandidos. Os altos impostos servem apenas para sustentar a escória. A mensagem é clara: estamos sozinhos. Fomos abandonados e somos massacrados todos os dias. Os números, os fatos e o nosso sentimento não mentem: vivemos na latrina do mundo, sendo presididos por uma ignorante que não merece nenhum respeito e representados pelas piores espécies de seres humanos.
Deixam-nos morrer nas estradas. Matam o futuro do país nas escolas e, enquanto vivemos na insegurança, os prefeitos, vereadores, deputados e senadores blindam seus carros e constroem suas casas em condomínios fechados.
Não há mais lei que proteja as pessoas de bem, nem leis que amenizem a dor dos que já perderam alguém para o descaso desses bandidos bem vestidos.
No Brasil, o crime compensa.