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Perco-me entre textos, poesias e músicas, percebi então que a melhor forma de arquivar era dividir. Nesses anos, muito do que não se perdeu foi graças a quem acompanha meu trabalho. Assim, na imensidão virtual deixo essas pegadas, parecem dois únicos pés, mas acreditem, carrego muito de vocês aqui.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Minha opinião sobre tua opinião

“E aí, Felipe, qual a sua opinião sobre a redução da maioridade penal?” Sinceramente? Não sei. Em tempos em que todos precisam opinar sobre tudo, soa quase que imoral admitir não saber. Mas veja bem, meu “não sei” não é infundado. Eu busquei, juro que me esforcei para fixar uma opinião, mas a verdade é que, quanto mais me abasteço de dados a respeito desse tema, mais me distancio de uma conclusão sobre o “menos pior”. Talvez seja o “não acredito que chegamos a esse ponto” que barre uma conclusão final... 
Temos que ter opinião sobre tudo? Não posso me conformar em opinar sobre amor, morte e madeiras que compõem violões? Aliás, todos precisam fingir saber sobre tudo? Isso não parece meio como “cuspir para cima”? Se todos podem e devem opinar sobre tudo, e se no geral a grande maioria é medíocre em pensamento, então não estaríamos fomentando a opinião pública estúpida? 
Quer me ver buscando saída de uma opinião minha? Basta um “banana” concordar comigo. Você não estranha isso? Quando pessoas que você acha “bananas” concordam contigo? Se não acha, talvez sua opinião seja somente a busca por qualquer aprovação. Ao mesmo tempo, quantas pessoas mais inteligentes, instruídas e até geniais discordam de você? Isso não seria o suficiente para ao menos você restaurar conceitos que, por algum motivo, em algum tempo você rompeu?
Eu não acredito em Deus, aliás, eu também não acredito que alguém possa me provar que ele não exista. Sou assim: mais agnóstico que ateu; mas todos são ateus com os deuses dos outros, ou você acredita em um deus com cabeça de elefante, um com braços de serpente e também naquele que fuma um cachimbo? Reafirmo: todos são ateus para com algum Deus que não o seu. Mas enfim, eu me declarei não crente em Deus para enfatizar que sou apaixonado pelas obras de Santo Agostinho. Agora pergunto ao cristão mais fervoroso: quais obras de Santo Agostinho você já leu? É possível que eu, um agnóstico, conheça e admire um bispo mais do que você, um aficionado cristão? É possível também que eu simplesmente passe por cima da opinião de um gênio como Santo Agostinho acreditando que sou mais sábio que ele?
Percebe a presunção quem percebe a genialidade, e acredite, há muitos gênios que já passaram por aqui. Muitos mesmo. Sabe essas coisas que frustram você? Elas são discutidas, pensadas e teorizadas há mais de quatro mil anos. Sabem aquelas feministas fervorosas que pensam ser essa a hora de mudar o mundo? Peça a elas sobre Aristófanes. Se a resposta for algo tipo: “quem?”, já recomendo que não perca seu tempo discutindo sobre a cobra que engole o próprio rabo. A não ser que seja um daqueles dias bons para se queimar o tempo falando sobre coisa alguma. 
Essa coluna ficou um tanto filosófica, não é? Sei que tem quem gosta. Aos que não entenderam muito o objetivo, por favor, não se culpem, nem me culpem: esse espaço bate nas teclas da vida, mas o que sabemos da vida?
Então, da próxima vez que alguém lhe pedir uma opinião sobre a matança de joaninhas em Trinidad e Tobago que tal dizer apenas um “não sei”?
A propósito: Aristófanes foi um filósofo que, em 392 a.C, escreveu uma peça teatral chamada “As Mulheres na Assembleia”. Sim, há quase 2.500 anos, um homem já protestava pelo que algumas mulheres chamam hoje de “o direito da nova mulher”.
Tá, mas reconsiderando o que escrevi agora há pouco: contra a matança de joaninhas eu sou contra.