Deito a cabeça no travesseiro, mas não durmo, não consigo.
Minhas lembranças giram e se colidem. De tanto o fazerem, por vezes se
encaixam: ou será que se encaixam por já nascerem peças?
A filosofia greco-romana chama isso de fatalismo, a ordem
cósmica e seus acontecimentos inexoráveis. Nós geralmente chamamos de destino.
E quem nunca se indagou ou foi indagado: “você acredita em destino?”.
Geralmente essa pergunta surge nos primeiros encontros com uma paquera, mas
diante de tantos estímulos, a profundidade desse questionar se perde. Acontece
que uma certa noite você deita para dormir e simplesmente não consegue. Fica
então a pensar nesta sensação de “tinha que ser”.
Era uma tarde quente de domingo, fui até um quiosque comprar
uma água. Um senhor se aproximou pedindo um refrigerante, ele vestia uma camisa
do Grêmio. Geralmente não faço comentários para algo tão normal, mas naquela
tarde eu fiz: disse-lhe algo simples, um rápido elogio pela camisa. O fato era
que aquele senhorzinho era um escritor o qual recém havia lançado um livro pelo
próprio Grêmio. O resultado dessa conversa foi que a editora dele alguns meses
depois viria a publicar o meu livro.
Mais recentemente meu amigo Bruno Teles me enviou uma mensagem
da Rússia. Bruno joga futebol profissionalmente. Alguns anos atrás o visitei em
Recife, convivemos por quase um mês. Lembro-me dele questionar sobre onde
estaria quando tivesse seu primeiro filho e aposto que se eu tivesse dito que
seria na Rússia, ele no mínimo acharia engraçado.
Matheus é outro grande amigo que o futebol me trouxe.
Goleirão, tinha tudo para ser o titular na época em que Victor – hoje goleiro
da seleção brasileira – havia sido recém-contratado pelo Grêmio. Lembro-me de
um treinamento que o Matheus pegou tudo, até que em uma brincadeira pós-treino
ele machucou o ombro e ficou meses sem poder jogar.
É nesse girar de peças que junto todas. Pois naquele domingo
quente, naquele exato minuto em que eu decidi comprar uma água, Natal Augusto
Dornelles – o escritor – também decidiu. Sabe-se lá o motivo que o fez vestir a
camisa do Grêmio e sei lá eu o motivo de ter feito um comentário sobre isso.
Não sei sobre motivos, mas vejo as consequências. Meu livro publicado, através
do qual conheci o Bruno que certa noite me convidou para uma festa do time onde
conheci o Matheus.
Este emaranhado de acontecimentos tira o sono dos que não
gostam da ideia de não poderem controlar suas vidas. Eu sou um desses a pensar
que o destino a gente faz, porém, quando paro para pensar na precisa matemática
que me cerca, percebo não estar sozinho. Por vezes finjo trilhar meu caminho,
faço de conta estar só, mas sinto que não estou.
O poeta foi questionado: “o que jamais há de se encontrar no
bolso de um suicida?” – Um bilhete de loteria por correr – respondeu. Se há
esperança, há vida. Basta, então, termos olhos abertos e nos atentarmos às
esquinas: elas demonstram que desistir não é uma opção quando nos percebemos
uma engrenagem movida por outras.
O acontecimento é, então, irrevogável? Não sei, se soubesse
não precisaria escrever, passaria apenas a vida observando e rindo de tudo e
todos. Mas acredito, sim, que há fatos preestabelecidos. Por quem? Por nós
mesmos. Sim, alguns chamam de lei da atração, eu prefiro chamar de “a
preparação encontrando oportunidade”.
Talvez o universo goste dos chatos, talvez ele até priorize
a chatice na escala dos talentos. Isso explicaria por que há tanto tempo
escrevo em jornais tendo por aí tantos melhores do que eu. Bah, só de comentar
isso lembrei de como comecei a escrever para o SERRANOSSA, mas essa história
fica para próxima.