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Perco-me entre textos, poesias e músicas, percebi então que a melhor forma de arquivar era dividir. Nesses anos, muito do que não se perdeu foi graças a quem acompanha meu trabalho. Assim, na imensidão virtual deixo essas pegadas, parecem dois únicos pés, mas acreditem, carrego muito de vocês aqui.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Para cada dose de loucura duas de razão


Nunca evitei um assunto pelo medo da polémica que este poderia gerar, também, nunca escrevi um texto pensando em polemizar. Os resultados desse equilíbrio eu encaro com satisfação e até um pouco de surpresa: Jamais fui ofendido ou taxado seja pessoalmente, por e-mail ou nas ligações que recebo relativas aos assuntos os quais abordo.

Pode-se dizer que somos moldados a partir de nossos convívios. É aquele amor materno que nos livra do ódio, as risadas com os amigos que nos dizem que ainda vale a pena viver, o cidadão bêbado no balcão a nos mostrar o quanto podemos ser chatos. Através dos exemplos controlamos os estremos. Desde modo, a cada texto que exponho meu ponto de vista sobre a sociedade, nossa política e religião, acabo por reforçar a ideia de que ainda há muita gente disposta a encarar opiniões como a base de fortalecimento que possibilita crescermos.

Outro fator interessante - e essa sim é uma mania minha - é o apaziguar de meus textos geralmente nos dois últimos parágrafos, uso deste artifício para saber se estou sendo lido até o final. Concluo então que essa leitura por inteiro ocorre justamente pelas pessoas não se posicionarem fervorosamente contra minhas opiniões, algo que vejo ocorrer muito com outras pessoas.

Minha abordagem nesse texto seria sobre os extremistas que ‘em nome da fé’ saíram metralhando pessoas em Paris, porém, acabei mudando esse foco justamente enquanto pensava sobre o meio o qual vivo, meio este que me permite a flexibilidade de opinião, um meio onde os poucos extremistas que conheci já nem sei por onde andam.

Resumidamente, sobre o assunto relativo aos terroristas, digo-lhes: Não confundam religião com religiosidade. A religião é algo herdado, algo transpassado pelo meio em que vivemos. Nenhum de nós nasce ateu, crente, católico, islâmico, aprendemos a ser através de um mundo mais material do que espiritual. Já a religiosidade é o contrário, ela nasce com todos nós e quando potencializada é capaz de reconstruir o ser humano voltado para o amor independente da situação a qual se encontre o seu meio.

Eis outro conceito importante para pensarmos. Por muito estamos confundindo a palavra evolução. Já não precisamos nos reunir em volta da fogueira para cozinhar e nos protegermos de animais maiores, porém, não podemos definir facilidades tecnológicas e organizacionais como evolução. Termos uma política como base ou mesmo qualquer tipo de crença não nos torna evoluídos, pois a qualquer momento podemos nos virar uns contra os outros. Não vejo uma real evolução no ser humano dos últimos dez mil anos, e refiro-me a evolução consistente da forma como tratamos o outro. Somos sim, regidos por um conjunto de leis que se abandonadas nos levariam aos primórdios. Não há nada de evolutivo nisso se não a mera imposição.

Voltando ao assunto sobre os que acompanham meus textos quero dizer: Jamais me foi sequer recomendado pelo Serra-Nossa uma abordagem específica sobre um tema, e essa é a parte mais saudável neste espaço que tenho desde o início do jornal. O não compromisso de tema fez de mim - o colunista - ao mesmo tempo criador e criatura, “Humano, Demasiadamente humano”, parafraseando Nietzsche. Eu sou a todo o momento influenciado pelo convívio com vocês.

Assim se inicia outro ano, ao que desejo para os textos que nascerem especificamente a este espaço? Que sejam lidos até o final, perdoados nas diferenças e acima de tudo que façam alguma diferença. Que saibamos crescer ao que parece ser o único paliativo para a doença do extremismo que cerca a humanidade; que saibamos absorver e dialogar com os pingos que nos restam de sobriedade.