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Perco-me entre textos, poesias e músicas, percebi então que a melhor forma de arquivar era dividir. Nesses anos, muito do que não se perdeu foi graças a quem acompanha meu trabalho. Assim, na imensidão virtual deixo essas pegadas, parecem dois únicos pés, mas acreditem, carrego muito de vocês aqui.

sábado, 27 de junho de 2015

Quando um cara gosta, ele simplesmente faz

Viver é estar no altar do sacrifício, apaixonar-se é intensificar o sentido da vida. Mas qual o sentido da vida? Exato, pergunto o mesmo: qual o sentido de se apaixonar, de amar? Neste imenso oceano de pensamentos que tange existir, talvez o amor – sempre temo usar essa palavra – seja a forma que encontramos para caber em uma caixa menor. Vamos em direção ao outro por não cabermos em nós. E se amar é viver, também aceitamos o sacrifício de morar em outro.
Eu já passei horas em frente a prédios, sem saber se ela poderia descer, sabendo que, se ela conseguisse dar uma escapadinha, no máximo teríamos tempo para uns poucos beijos e abraços. Eu perdi a conta de quantas vezes subi morros correndo, ofegante, lutando contra o tempo. Tudo porque ela havia dito que precisava me ver “agora”.
Por minhas primeiras paixões juntei moedas para poder comprar algum presente qualquer que, de tão suado, acabava por cumprir seu objetivo: arrancar um lindo sorriso.
Já machuquei os joelhos para poder acompanhá-la no “projeto verão”, fui para lugares que odiava, conheci pessoas que não me acrescentaram nada. Já usei roupas que ela dizia que ficariam legais, encarei situações de perigo, abri milhares de portas para ela entrar e tranquei outras para não deixar que ela saísse. Eu vaguei por cidades escuras e as vi se tornarem pequenas pelo simples fato de ela estar no banco do carona.
O que aprendi com tudo isso? Que quando um cara gosta, ele faz. Ele encara o ônibus, as horas de viagem, as olheiras e as pernas cansadas. Quando ele gosta de verdade, ele não se importa se ela está sem maquiagem – aliás, ele pode até ter ciúmes que ela fique de rosto limpo em frente aos outros: ele quer a sensação de saber como ela acorda só para ele.
Bem, eu não estou junto de nenhuma dessas pessoas de quem tanto gostei e pelas quais tanto fiz. Talvez alguns se questionem se valeu a pena, mas eu tenho certeza que sim. Como casal, demos certo o quanto era para dar. Graças a elas o tempo congelou naqueles momentos. São minhas pequenas eternidades, memórias que não envelhecem e ensinam o poder da presença e despedida.
Eu abri mão de outras coisas, entreguei meu tempo e, em troca, elas me deram o delas.  Em algum lugar desse tempo, tudo parou, nós permanecemos. Por isso que, quando um homem quer, ele luta e faz, ele sabe o preço do “para sempre”, sabe que em uma mulher cabe a sensação dos segundos mais incríveis de sua vida.
Relacionamentos começam e acabam todos os dias, mas será que um romance realmente tem fim? Quantos pedacinhos de outros cabem em nós mesmos quando nos despedimos daquela pessoa que esteve ao nosso lado, que compartilhou seus medos e alegrias? A saudade é a herança dos que recordam e recordar é deixar que soprem os ventos que nos conduzem para o próximo porto. Somos navegantes, mas também somos a parada. 
A paixão é essa combustão instantânea, uma fagulha que incendeia o motor da vida. Um homem de verdade aprende isso, ele entende que para o amor e a vida há também os sacrifícios. Logo, este homem pode ter se tornado mais duro e arredio. Mas ele não traz desculpas: quando ele realmente gosta, ele simplesmente faz.